Verificação de Projetos - CQP

Sou um incansável e abnegado defensor da idéia de se fazer, periodicamente, a verificação de projetos estruturais. Acho a palavra verificação um pouco inadequada e passei a adotar, de uns anos para cá, a sigla CPQ (Certificação de Qualidade de Projeto).

Comentários sobre a verificação de projetos:

1) O projeto não cumpre um ponto estabelecido na norma e o projetista insiste em se responsabilizar por isso. O que o verificador deve fazer?

O autor da CQP deve formalizar a não conformidade através de um documento válido, fundamentada em requisitos técnicos, e encaminhar ao contratante. Quando a situação é grave, prevendo algo mais sério no futuro, é melhor encaminhar a documentação registrando o parecer da CQP num Cartório de Registro de Títulos e Documentos. Eventualmente, registro no CREA.

2) O projeto cumpre todas as normas mas o verificador, contratado pelo proprietário, "resolve" que a solução da estrutura não deveria ser daquele jeito, (uma opinião puramente filosófica), procurando economias e comodidades, (coisa muito bem-vinda pelo proprietário). O que o projetista deve fazer, se não concordar com tais economias e comodidades?

Este não é, e nunca foi, o objeto do relatório da CQP. O projetista deve defender a solução adotada e recorrer aos orgãos de classe e/ou autoridades para preservar os seus direitos autorais sobre o projeto. Lembrar que o segundo projeto é sempre melhor do que o primeiro. Se o contratante quer pagar para o projeto ser refeito, seria melhor pagar para o autor do projeto original estudar mais, melhorar a solução e otimizar o consumo de materiais. Em último caso, abdicar da autoria do projeto mas fazer o contratante cumprir todos os compromissos financeiras previamente acertados. O novo projeto (otimizado) não deve uma cópia do original com adaptações.

3) O projetista descobre, pelo contato com o verificador, que este não tem a devida competência para fazer a verificação. O que deve fazer? Se o verificador tem grande poder de decisão junto ao proprietário.

O projetista deve denunciar o fato e não aceitar o verificador provando ao contratante, tecnicamente, a não adequação do referido verificador e as dificuldades para dar andamento aos trabalhos. Em último caso, abandonar o projeto cobrando os honorários devidos. Novamente, o projetista poderá recorrer às entidades de classe que devem disciplinar o processo. Como já comentei, defendo ardorosamente a periódica elaboração da CQP para uma certa amostragem de projetos. Sem um mínimo padrão de qualidade dos projetos, obediência de normas, etc, não é possível defender a valorização dos projetos e, consequentemente, da classe. Devido a minha posição de fornecedor de softwares para a engenharia estrutural, já cansei de tomar conhecimento de projetos elaborados por colegas que não utilizam as devidas armaduras mínimas, cargas normalizadas, cálculo de pilares parede, etc, para reduzir a quantidade total de armaduras e se tornar competitivo no mercado. Isto depõe contra a classe, traz sérios problemas para empresas idôneas e traz riscos inerentes aos projetistas. Por qualquer problema que acontece na obra (por exemplo, fck não atingido) e uma CQP é solicitada a outro projetista, o autor original do projeto pode ser taxado como um profissional que elabora projetos "fora-da-lei". Imaginem a satisfação de um empreendedor, que está aplicando numa obra a quantia de R$ 50 milhões, quando descobre que ele está elaborando uma obra também "fora-da-lei". Nesta hora, caso constatado o problema, o projetista vai perder o cliente e vai ter sérias dificuldades para participar de outros empreendimentos de porte. A busca pela qualidade dos projetos tem que ser um objetivo muito bem definido para todos. Definidos padrões mínimos de qualidade para todos, o problema passa para a esfera comercial, atendimento, afinidade etc.  

Também defendo que a CQP deve possuir vários níveis de validação em função do porte e complexidade da obra (CPQ Nível I, II, III etc). Uma diretriz básica a ser adotada neste caso é a recomendação para que o profissional capacitado e imbuido da missão de elaborar a CQP dos projetos não deve ser um projetista que disputa o mercado rotineiramente. Basta regulamentar estas ações para que o mecanismo funcione.

Já que estamos tratando do assunto da CQP, Projetista X Revisor, transcrevo abaixo um interessante texto escrito pelo nosso colega Prof. Dr. Augusto C. Vasconcelos sobre o tema. Eu acho o conteúdo deste trabalho muito bom, principalmente por ter sido escrito por um engenheiro que atua nesta atividade há muitos anos.

Eng. Nelson Covas

TQS Informática Ltda.

São Paulo - SP

Verificação de Projetos - Prof. Dr. A.C. Vasconcelos

A verificação de projetos está se tornando cada vez mais necessária mas trás consigo diversos problemas, técnicos e éticos.

A) Porque se verifica um projeto?

  • Para tranquilizar o cliente.
  • Para se ter a certeza de que um acidente não seja devido ao projeto.
  • Para dar garantia ao autor do projeto.
  • Para mostrar ao proprietário leigo de que está comprando algo revisado e certo.
  • Para exibir em qualquer disputa.

B) Quem deve fazer a verificação?

  • Qualquer profissional habilitado e com prática pessoal na tarefa.
  • Preferivelmente um profissional que não esteja exercendo no momento a mesma atividade daquele que desenvolveu o projeto ( problemas éticos).
  • Por um profissional que conheça com profundidade o motivo das exigências (normas).
  • Por um profissional desinteressado nas eventuais disputas.

C) As normas devem sempre ser totalmente obedecidas?

  • Como documento legal, as normas são feitas para serem sempre obedecidas.
  • Quando determinadas cláusulas não são obedecidas, é possível justificar usando normas estrangeiras atualizadas como base. Não valem normas antigas.
  • Quando existirem ensaios posteriores à redação da norma, que justifiquem.
  • Quando o autor do projeto tiver inovado e assumir total responsabilidade pelo que fez.

D) O que fazer quando as normas vigentes não forem obedecidas?

  • O projeto pode não ser recusado, mas devem ser mostradas as falhas.
  • Quando para garantia da segurança for considerada a colaboração dos elementos estranhos à estrutura (por exemplo, rigidez das paredes).
  • Solicitar adequação do projeto, para evitar a recusa.

E) Quem alterar o projeto?

  • É indispensável que qualquer alteração do projeto seja feita pelo autor.
  • O revisor pode, no máximo, mostrar como seria o certo, ficando a critério do autor aceitar ou não a alteração. Neste caso o revisor fará a alteração e ficará responsável.

F) Devem ser pagas tais alterações?

  • Quando feitas pelo revisor, sim.
  • Se o autor do projeto não concordar e fizer as modificações para evitar maiores transtornos, deve ser remunerado.
  • Quando as alterações visarem melhoria das condições de execução, as despesas devem correr por conta do construtor.
  • Quando as alterações visarem melhoria da durabilidade, o problema é discutível.

G) Vale um cálculo novo como verificação de projeto?

  • Projetos estruturais não possuem solução única. Para a mesma estrutura, dois cálculos diferentes podem ser ambos satisfatórios.
  • Qualquer cálculo deve ser examinado com as mesmas hipóteses básicas.
  • Condições de detalhamento podem tornar um projeto inviável do ponto de vista executivo. Isto entretanto não deve ser considerado um erro do mesmo tipo de erro estrutural.
  • Cobrimentos inadequados diminuem a vida útil. Quando esta não é especificada, o problema torna-se duvidoso.
  • Quando existirem erros conceituais, o projeto deve ser abandonado e refeito.

H) Como atuar em face de modificações de projeto?

  • Modificações de projeto durante a execução exigem geralmente infrações a normas.
  • Todos conhecem os efeitos nocivos de modificações de projeto: produtividade, efeitos psicológicos, eliminação do lucro, má vontade dos participantes. Impõe-se uma regulamentação a respeito.
  • Modificações são uma constante em quase todos os projetos. São causadas por: indecisões do proprietário ( ou sua impaciência em começar a obra antes da possibilidade), dificuldades financeiros, falta de arquitetura definitiva. Em cada caso o comportamento dever ser diferente.
  • Muitas vezes, quando o projeto ainda está sendo verificado, acontecem modificações. Não há regras aplicáveis em geral.
  • Alguns fatos importantes que têm sido esquecidos quase generalizadamente, são os seguintes:
  • Verificação de projeto não é o refazimento de operações matemáticas.
  • Verificação de projeto não implica em recalcular tudo.
  • É verdade que em certos casos, operação "de bolso" não são suficientes para aprovação de um projeto. Neste caso é necessário
  • Fazer o processamento de partes do projeto. Sempre que possível isto deve ser evitado, não somente por ser desnecessário, mas também para reduzir os custos de verificação.
  • A concepção do projeto é o ponto fundamental. Um projeto mal concebido pode trazer problemas sérios de execução (escoramentos não declarados e não percebidos).

Observação: Todo este assunto exposto de forma geral sem especificação dos casos como exemplos, são inúteis e totalmente sem proveito. Sugiro portanto que cada item seja apresentado mediante algum exemplo concreto. Isto atrairá mais a atenção de todos, porém será mais difícil de preparar e limitará, por causa do tempo disponível, a apresentação de tópicos importantes.