Punção

Introdução

A verificação e dimensionamento a punção utiliza a formulação proposta pela ABNT NBR 6118 como base de cálculo, fazendo algumas considerações para tratamento de situações não abordadas pela norma.

Histórico

Anteriormente, a verificações tomava os valores obtidos das barras do modelo de grelha para o cálculo das ações em cada perímetro de punção. Apesar de ter uma proposta mais refinada, esta abordagem dependia grandemente da discretização do modelo e poderia facilmente apresentar valores não previstos pela abordagem da norma.

Desta forma, a partir da V23, optou-se pela utilização direta do conceito apresentado pelo ABNT NBR 6118.

Teoria utilizada

A análise de punção é feita considerando a análise plástica. Ou seja, já está prevista a fissuração do concreto e apenas mecanismos fora a integridade do concreto são utilizados para definição da resistência máxima.

Nesta situação de análise plástica, a distribuição de tensões de cisalhamento no perímetro crítico tem o seguinte aspecto:

a631618f03d7731d5e901ba2ea010dcd.png

Observem que, para um momento aplicado, a tensão máxima de cisalhamento tem o mesmo módulo para todo trecho do perímetro crítico.

Apenas para ilustrar, segue o diagrama de tensõesXdeformações “clássico” para a situação elástica, elasto-plástica e plástico:

cc3e34d3d3bea89b80f44eeb42c5d6b2.png

Observem que a distribuição de tensões no perímetro crítico tem o aspecto esperado (mesmo módulo), quando analisamos os diagramas acima.

Eliminação de concavidades

Os contornos críticos em volta do pilar devem ser convexos. O primeiro perímetro crítico consiste então no contorno do pilar com as concavidades removidas:

41aa52e815b35a116ef1023a12d9b259.png

Perímetros efetivos

Os perímetros críticos são definidos conforme consta na ABNT NBR 6118. Mas o comprimento real usado no cálculo de tensões será limitado por arredondamentos de raio 2d e pela distribuição das armaduras de punção (que serão previamente planejadas). As projeções das linhas de armaduras em torno do pilar sobre o perímetro crítico podem ter distância máxima de 2d, limitando o comprimento do perímetro como na figura:

48ffc66f652249ecb3eacdbed701f2ed.png

O resultado é que novos perímetros podem não ter um acréscimo significativo no comprimento, conforme a disposição das armaduras. Isto pode provocar um aumento no número de perímetros necessários para armar punção.

Critérios para controle dos perímetros críticos

O botão "Critérios de punção" chama a janela onde "Perímetros críticos" são os critérios para controle da geração dos perímetros. Os critérios são:


88804a298f3b9c3c2da92f2f1c34a0bb.png

Comprimento máximo para eliminação de concavidadesA remoção de concavidades só será feita em arestas com comprimento menor que o máximo definido aqui.
Comprimento máximo para agrupamento de trechosÉ a distância Dmax mostrada anteriormente que serve para quebrar os sub-perímetros (padrão 1.5d).
Distância entre perímetros críticos paralelosPor padrão vale 2d, conforme a norma.
Número de perímetros a mostrar inicialmentePor padrão são gerados inicialmente três perímetros em volta do pilar.

Adaptação de nomenclatura

Para maior clareza nas explicações a seguir, é necessário que alteremos a nomenclatura utilizada pela norma em relação aos índices. Desta forma, iremos utilizar o seguinte:

376ecb4b606148d511b3be7247ab38ef.png

Com isso, a formulação passa a estar associada aos eixos cartesianos, o que torna muito mais simples o entendimento.

Cálculo do Wp

Uma das características básicas para o cálculo de punção é o módulo de resistência plástica (Wp).

O procedimento mais simples de utilizá-lo no sistema TQS é através da integral presente no item 19.5.2.2. da ABNT NBR 6118:2014:

436194dc07afcc9aa8e4edd323aaac41.png

Esta integral pode ser tomada, de modo simplista como a somatória de comprimentos de aresta, do polígono analisado, multiplicados pela distância ao eixo analisado:

7d90842a75999fe58c508ab8e90243b0.png

As arestas para esta soma devem considerar que o módulo da distância. Desta forma, toda poligonal deve ser “editada” de modo que sejam criados pontos na intersecção das arestas originais com as linhas de eixo que passam pelo CG. Um exemplo abaixo:

bb0504b548633e77bf62fb2b035131e1.png

Observe que foram criados os pontos 2, 4, 7 e 9, que não existiam na poligonal original.

Uma observação muito importante é que o valor de é calculado sobre a geometria do perímetro crítico efetivamente existente. De modo gráfico temos:

70ab97759466f07922e9275207c66e13.png

Formulação genérica

A verificação a punção é feita através da tensão de cisalhamento, sendo apresentada a seguinte formulação na ABNT NBR 6118:

56bca99d09f6f1d544dfb99e5b34db83.png

Adaptando esta fórmula para os eixos cartesianos X e Y, teremos a seguinte formulação:

0ba66ca61d0d54cc7b1b3154b9ff9205.png

Onde:

a3da5d2ed5642df69e7f4007e2328494.png : momento fletor atuante em torno do eixo X analisado;

dd68570d2992e303bb1308863ec500a5.png : momento fletor atuante em torno do eixo X analisado;

44183c24c4787290b2cc737e297421f1.png : é o valor de K (tabela 19.2 da ABNT NBR 6118:2014) obtido para relação def2950891ce540c71566177a4292461.png do pilar;

f780154a754490d583b1115afaa25aa1.png : é o valor de K (tabela 19.2 da ABNT NBR 6118:2014) obtido para relação 5ea1447b0fa63984c5a6e43269691237.png do pilar;

a714e7e05e0ac9d2cbae6c8ad4a4580b.png : dimensão em X do pilar. Usar retângulo envolvente, caso necessário;

d066020a66959d44d308415a20c82f41.png : dimensão em Y do pilar. Usar retângulo envolvente, caso necessário;

35bc05cf2b2ef29612343399fb1a0330.png : altura útil da laje. Iremos utilizar a proposta do Eurocode 2, 2004:

b1d1905e02ee05c31cc3c23415bdb2e5.png

78fd5558644853607c3ba33fbcbe0385.png : altura útil da laje na direção X;

d3bafd8e8e52db95209d0dc9cfe3de3d.png : altura útil da laje na direção Y.

Não faz sentido fazer qualquer cálculo de punção com os valores 9d67cab010b034a90d2e29c03526e92c.png e d3bafd8e8e52db95209d0dc9cfe3de3d.png separadamente, uma vez que o efeito punção ocorre simultaneamente em ambas as direções e não pode ser separado em trechos.

Observação sobre a formulação

A formulação apresentada no item 19.5.2.3.b, da ANBT NBR 6118:2014 está errada ao indicar que o valor de baed9dda753b970e301ce20233422478.png seria obtido com a substituição de fd69d215f63152084f3fcb9e9ca38bf4.png por 5bc063cb21ea6fa54ffb4a6686972707.png. O valor de baed9dda753b970e301ce20233422478.png deve ser obtido com fd69d215f63152084f3fcb9e9ca38bf4.png.

Esta formulação tem um formato muito próximo ao da tensão máxima em uma seção sujeita a flexão normal oblíqua. Apesar de não haver qualquer menção nas normas, podemos tomar a formulação com exatamente o mesmo entendimento. A primeira parcela está associada ao esforço normal. A segunda parcela, ao momento em torno do eixo X e a terceira parcela, ao momento em torno do eixo Y.

Esforços Solicitantes Utilizados

Modelo 6

Os esforços solicitantes a serrem utilizados na formulação apresentada representam o acréscimo de esforços solicitantes no pilar entre a base do pilar acima e o topo do pilar abaixo. Este acréscimo será considerado como vindo da laje e é para estes esforços que a verificação/dimensionamento de punção deve ser efetuado.

Modelo 4

No caso de o edifício ser processado com o Modelo IV, os esforços solicitantes são obtidos com base no modelo de grelha do pavimento.

Perímetro Crítico Excêntrico ao Pilar

Caso o baricentro do perímetro crítico não seja coincidente com o baricentro do pilar, é necessário alterar o momento fletor utilizado na formulação anterior. De modo esquemático, tomemos o pilar de canto a seguir:

ee3c42be41f5f88ee53e632254bf53bc.png

O valor de momentos fletores resultante da excentricidade são apresentados abaixo:

2f50ae0cc842f553c4590c94e4a4bffa.png

A formulação acima é diferente da apresenta pela ABNT NBR 6118 pois os valores de 0aac5d87d67419a3a4fea1ee78d84842.png e 92e4133f7c66896980a0165602782e19.png são tomados com seus sinais, assim como para os valores de 573f79d2c1ce5352ddfc56f5892ea56d.png e 693c38fe13b6923ac681eb97f1442b60.png, de modo a manter a coerência vetorial dos momentos fletores.

Na norma ABNT NBR 6118, a situação de perímetro crítico excêntrico é apresentada apenas para pilares de extremidade e de borda, mas, teoricamente, o mesmo problema ocorreria em pilares não retangulares.

O valor de momentos fletores "efetivos" a serem utilizados no cálculo de tensões é apresentado abaixo:

ef9ebd7cae85f1e805e832485ae747fc.png

Pilares com Vigas

No caso de pilares que, além das lajes, também recebam vigas, a verificação/dimensionamento a punção é tratada da seguinte forma:

  • Obtém-se os esforços solicitantes, como já mencionado;
  • Subtrai-se os esforços que estão associados às vigas;
  • Com isso, temos esforços solicitantes associadas apenas as lajes;
  • Faz-se a verificação/dimensionamento.

Exemplos de cálculo

Considerando a situação hipotética apresentada abaixo:

02efa3cb13f9145cb10b6dfc6f85fb0e.png


Do esquema acima temos:

5444d5722a61fe6c4420c11934590e6c.png

Perímetro C

d0d20fbc6b475297537465898d37af47.png

Os cálculos são os seguintes:

5450a77083246d8011e776d4658625e1.png

O valor apresentado pelo programa é o seguinte:

cbd314ee633a62fd8c5be20809477575.png


Perímetro C’

d2d7f8828df51a452e5197160f3ad46b.png

Os cálculos são os seguintes:

a0793591c390b2af083fe1c2382d897e.png

70727363dc51d5e6f2cfb27fce9a75ad.png

Obs: foi adotado 3a14b8166ebf1faed07215c38a473940.png.

Então será necessário a utilização de armadura. Primeiramente, devemos definir a geometria onde a armadura será distribuída:

bd1440f4978b5b7b996e8bb11d0cdabb.png

91d6258155ba6f9e7fc217ea8f655e58.png

Conforme item 19.4.2:

Espessura laje (cm)fywd (MPa)
≤ 15250
17333,75
≥ 35435

Com isso:

b5a5a87c38d881662c8ccf0d025a2b11.png

92888cf04511e49ea4af9be083f86931.png

Considerando armadura com ca37848238aac11675081c0d2422d969.png:

0ba5bb2baefbd65d2e99ed776da18923.png

Ou seja, temos que distribuir 20 conjuntos de armadura de cisalhamento. No Editor é apresentado o seguinte:

48fb69994d6932345e4092d6355454d0.png



Perímetro C’’


08238d63b20cae24075829579754a27d.png

Os cálculos são os seguintes:

833115e881a99427dc30b1af0e781948.png

No Editor é apresentado o seguinte:

06f28658353b46ddfa81ac454fdee78e.png